segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ponto de Restauro

Há folga em mim. Os pequenos mares que caem das nuvens agitam a terra humedecida, permitindo o aroma a frio em verão quente. Dificilmente se respira sem o sentir. O antagonismo entre as gotas frias e o vento sufocante torna o momento suficientemente bom para aventurar-me em dizer-te que não será sobre ti que irei penar. Os carris estremecem toda a estação com o poder que investem sobre esta, tão desprovida de bravura e violência como o comboio, prontamente amestrado para acalmar.
Uma vez já refastelada e tranquilamente apática, planeio o novo rumo e o que será melhor escolher neste momento em que silenciei todos. Não há ruído de fundo que enalteça qualquer opinião em jeito de bala perdida. Conto apenas comigo e tenho uma hora de viagem para meditar.
O puto de olhos esbugalhados, que tenta acompanhar sem ritmo o filme que lhe surge, decide sentar-se. Não tem importância o calcar de pés de dançarinos que ele fez. Terá de ser desculpado. Ainda não sabe o histerismo que tudo lhe reserva e assim com a falta de experiência gasta toda a película fotográfica dos seus olhos nas paisagens. Até que tudo o que viveu foi convertido em sonhos e exaustão. Adormeceu.
Tento não pensar, não o quero acordar com tanta agitação que trago em mim. Olho o rosto sereno que me acompanha. Em algum intervalo de tempo foste eu com tudo o que me compõe? Sei tanto sobre ti e toda a tua história, contudo nada sobre o que sentiste. O prestígio de ser alguém para ti é tão grande e tão pesado que prefiro não partilhar. Julgar-me-ia acomodada à tua opinião, embora seja a escolha mais acertada, sei que em ti consigo encontrar a serenidade que a imaturidade não consegue conjugar.
Quer esta viagem termine, quer continue, sei que escolhi o melhor e assim o silêncio que continue!

Agridoce II

Hoje, que tento falar-te ao ouvido, narrar-te o conto que temos escrito, não sei como fazer eco das palavras. Ontem ter-te-ia dito tudo, mas no ontem deixei-te no passado. O tempo superou o receio em não mais ouvir-te, foi imperador e condenou-te à forca. Protegeu-te, note-se. Teria sido tão mais difícil se as palavras vibrassem em ti. Havia tanto por fazer que acabávamos cansados a um quarto da perfeição.
Fomos sempre o inimigo perfeito do outro, aquele que odiámos e amámos furtivamente, o domínio pelo incontrolável e selvagem e a curiosidade sobre o que é imprevisível.

segunda-feira, 7 de março de 2011

My companjera

Autenticamente nómadas. Em tudo. Como sempre, e sem grande alternativa. Divagando em hipóteses e teorias. Às vezes, ainda agarradas aos contos de fadas empilhados numa matriz de pó e melancolia. Que assim continuem até se libertarem sozinhos, como lhes foi incutido a fazer, a elas.
Se os pensamentos, planos, projectos, ideias desenhassem no ar que as sobrepõe, jarros de tinta escorreriam pelos seus rostos pateticamente sorridentes, enquanto as pequenas e frágeis gotas esforçavam-se para a coesão.
Se o vento sopra lá fora, onde está frio, ficam atemorizadas. Uma com a outra, continuam sós e, nessa gélida noite que as acompanha, estão na luta para permanecerem vigilantes. Uma delas cede, a da praxe, pelo cansaço que já leva na sua vida. A outra olha-a de relance, esboroando um modo para se adaptar ao fardo e ao espaço que a primeira ocupa. Não a vai chamar à realidade, pois tem consciência que, apesar da teimosia em continuar no que costumava ter, a resistência apenas surge pelo insucesso conseguido.
Gostam de tudo, e do nada, do mundo e do canto mais único que lhes possam dar. Gostam de todos embora procurem o que apenas elas pretendem.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Amor Cólera

Foi em ti que algo de mim se perdeu, se esmoreceu e não mais voltou. Para além de mim, partiu tudo aquilo que eu era. Ficaram as réstias voláteis da dor que deixaste escrita em testamento. Foram, por ti, saqueadas as minhas próprias regras e, agora, o vazio ficou só. Consumem-se, no entanto, as memórias rebatidas na tela do ontem cuja vontade de pintar ficou aquém da existência. Eu estive quase a acreditar que era capaz de conseguir, que era capaz de ser imune já doente de ti. Porém, foi um esforço desmesurado de emoção com pouco usufruto para quem ficou com as saudades e com a ausência, com a vontade e com a angústia. Tudo isto é tudo o que o presente consegue fazer. De raiva respiro, de fúria me alimento, apenas por estar assim, sem saber por onde ir, para encontrar o que nunca viveu. Foi o que consegui por, um dia, ter aplanado o que me desorientava.
Até então.
Escutava atentamente as leis impostas por elas à pessoa que comandavam e que eram. Observava o modo taciturno com que acometiam a dor de ver ao longe o que sonharam perto. Sentia o modo como era atirado, ao sorriso delas, o desprezo de não quererem entender o que sempre souberam. Isto era o amor altruísta, o paradigma que contrapunha o que eu sentia, estando presente o mesmo sentimento. Era o contorno ao meu penar, era a resolução do meu luto, por mais radical que fosse. Não eram acéfalas, não eram indiferentes, eram sim esplêndidas em sabedoria e em bondade, por não interferirem no percurso de quem já tanto as modificou. Era a benevolência de quem amava sem exigência, de quem sofria sem requerer espelho no outro, era a aceitação pacífica de quem nunca esteve em combate, pois nunca quis guerra para ter o que quer. Era a constatação de não querer ferir o outro com um sentimento tão dócil e, assim, guardavam-no no álbum, na esperança deste sobreviver.
Inesperadamente sorriam. Nunca uma lágrima caiu, nunca um grito se lançou na conversa. Apenas o contentamento de quem já sentiu o que nos movia a todas, mas de modo diferente. A personificação desse sentimento era figura distinta em cada uma de nós: ora puro, ora esperançoso e, por último, irado. Cada uma estava feliz com o seu fado, menos eu. Triste por natureza, eu não era como costumava ser. Via a vida a bater à porta de todos, menos na minha. E já eram mais que muitas as lamentações.
Elas já dormem, fecho o arquivo do dia e o ensinamento do monólogo. Elas já dormem, e eu continuo acordada, já estou atrasada, preciso de crescer!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Síndrome da Privação

Disse a uma pessoa, há uns anos atrás, que escrevia quando uma espécie de tristeza me feria e, do modo mais terapêutico possível, conseguia navegar à bolina em plena tempestade. Desta vez isso não aconteceu, já que cada palavra registada era uma lâmina de dissecção aos pensamentos que desejava tornar remotos. Até hoje.

Enveredei por um caminho onde usava uma capa ilusória de bem-estar e concretização pessoal. Era sincera mas não suficientemente confortável nem verdadeira. Insisti nela porque os outros me diziam ser a alternativa perfeita para ultrapassar a injustiça. A psicanálise diz que a injustiça é o sentimento mais difícil de superar, quando somos condenados sem culpa. A minha análise diz-me que a injustiça está patente em cada sentimento que me eleva a um estado acabrunhante. E mesmo assim dizem-me para sorrir com cara de palhaço.

Pois bem isso acabou. Não vou simular estar bem quando para isso recorro a milhares de minutos em conversa com os meus amigos que, desesperadamente, tentam mostrar o que ainda sobra de positivo. Finalmente eu já vi isso.

A minha personalidade da qual se destaca a teimosia, a arrogância, a FRONTALIDADE, a SINCERIDADE obrigam-me a entender que todas as derrotas enfrentadas até aqui, as declarações de injustiça magoam-me e marcaram-me acima de tudo. Sim, porque abdico qualquer sentimento de culpa que até então obrigava a consumir por mil e uma razões que o meu intelecto impunha. Não, eu não tive culpa alguma: permiti a essa pessoa uma liberdade que até então não havia experimentado, demonstrei que a simplicidade era um caminho interessante, ensinei a amar acima de qualquer circunstância que nos quisesse derrubar, estive lá nos momentos de lágrimas. Fiz mais do que outrem, fiz o que deveria fazer e de nada me arrependo. No fim eu perdi, contudo a minha força de vontade quis que lutasse por uma última vez. E voltei a perder. Pela última vez. Sei que fui a ressaca, a distracção, o fascínio. Contudo fui tudo isso para o outro lado, pois assumi uma postura que anulava tudo isso. A minha parte foi feita e concluída e orgulho-me sinceramente disso.

Segui em frente, conheci pessoas maravilhosas, conheci pessoas que defenderam a reputação estragada. Mudei de perfume, evito passar em determinados lugares, tento não referir determinados conceitos, apaguei bandas sonoras e fotografias, não por medo, mas por respeito ao termo que se apresenta como passado. Apareceram amigos que nunca pensei existirem e neste momento é a eles que lhes devo respeito. Como tal, o assunto está, a partir de hoje, encerrado. Deixei de encarnar a máscara do estar a conseguir lidar bem com a situação pois tal não corresponde ao que sinto. Seja como for, tudo isto irá passar, mas orgulho-me muito por, no meio da fraqueza e da desilusão, conseguir assumir tudo o que se passa comigo. Isso faz de mim um ser humano, faz de mim uma pessoa melhor.

Assim, a todos os meus amigos que não vou enumerar porque daqui a alguns segundos estarei a procurar-vos, fica a promessa que o assunto terminou. Chega de interrogações, chega de teorias para tentar entender o que se passou, chega de falar sobre alguém que abandonou. A partir de hoje quero ser feliz com vocês. Hoje e daqui em diante, escolho-me a mim.

Às pessoas que fizeram jogo duplo e que se contentaram com este estado, parabéns, derrubaram um castelo de cartas, e a essas pessoas peço, mais, suplico distância e desprezo. Este texto é para os meus AMIGOS sejam amigos de anos, ou sejam amigos de dias, é para eles. A eles devo-lhes um pedido sincero de desculpas porque lutaram contra mim apenas para me reerguer e para me encontrar. E só a eles permito comentários e opiniões. Este texto fica encerrado a qualquer outra pessoa!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Intimidade

Aguentaste a rejeição indirecta enquanto investia num beco sem saída. Não me puxaste nem tentaste desanimar-me. Ficaste em segundo plano a assistir a minha luta pessoal e, se algo em mim quebrasse como a minha vida, corrias em meu auxílio e tentavas salvar, se assim podemos designar as tuas atitudes. Não usaste filosofias para me dissuadir, limitaste-te a agir em conformidade com a minha tristeza, sendo um espelho invertido, um usufruto camuflado pela mágoa encantada.
Ficavas tão paralelo a mim que numa recta eu não conseguia avistar-te, tão cega da vingança que queria impor em quem me fez sofrer. Eras um ponto de fuga disfarçado com o raio de luz que impedia de ver o que eras para mim e por mim.
Dado momento escapaste de um jogo perigoso e desamparaste-me, foste embora sem sinal de despedida. E acordei.
Eu precisava de ter-te ao meu lado mesmo que fosse a lutar por ele, mas eu precisava de ti, eu queria que me apoiasses, queria que estivesses lá por mim. Mas não te podia acusar de abandono, porque mantiveste a tua presença até à exaustão. Eu percebi, eu amava-te à minha maneira e tu gostavas meramente de mim. Arrependeste-te de me encontrar numa fase tão atribulada, mas não podias renegar o que nos unia. mesmo que fosse um sentimento negro por outrem.
Apareceste naquele dia e perguntaste-me: Conseguiste o que pretendias? Ao que eu respondi: sim, tu voltaste. Surpreendido pois nem eu nem tu assumimos o que tínhamos um pelo outro, anulando em detrimento do ódio por ele. Mas naquele momento tudo se apagou, a efemeridade que tanto gritávamos tinha, finalmente, chegado ao fim. Não me prometeste dias, não me prometeste anos, deste momentos seguidos de momentos e assim desenhamos o nosso presente. Não se fala de futuro! Cada vez que se fala nele, são segundos que se perdem no já, no agora por algo que ainda virá ter connosco.
Não se fala de passado! Não se chora por nada que aconteceu, pois limitar-nos-ia o presente para imitações reles de algo já esquecido.
Fica comigo AGORA, fica comigo AQUI.
(E assim ficamos, e continuamos lá...)

domingo, 15 de agosto de 2010

Adeus

Tenho tido a tendência de procurar quem não devo, ou melhor, por quem não devo ter. Facto é que ocupa um espaço outrora roubado e, agora, entregue de ânimo leve. Estou revoltada comigo mesma porque havia prometido começar a pensar sentimentos, alterando o verbo que angustia demasiadas pessoas. E fui de tal modo surpreendida que desejo vingar-me em quem procuro. E logo desisto.
Prometi afastar-me e sou atraída inevitavelmente para aquela fotografia sincera que me mostraste um dia. Ninguém sabe, é segredo meu e da minha consciência, já que o coração está de castigo e apenas serve para bombear o fluido da febre, se a isto posso chamar amor.
Enlouqueci por ver que não és nada em mim, e que sou bem menos do que isso em ti. Inverti o sentido da melodia que ainda te agarra a algo e, sempre que a ouço, revejo a nossa conversa e a mera relevância que teve para ambos.
Vou até à janela de uma casa que não me pertence, idealizo a tua situação e peço que em algum ponto do universo haja uma hipotética intersecção. Enclausurada pela circunstância, uso o sarcasmo e a ironia para gozar comigo mesma: "a que ponto é que tu chegaste...".
Digo a mim mesma que não é mais do que uma miragem, do que uma ilusão que me impuseste sem querer. Gostaste e eu gostei do mesmo modo, na mesma proporção e assim terminou o que ainda nem sequer se iniciou e que, sinceramente, não vai iniciar.
As interjeições começam a fazer parte do quotidiano e penso: por que é que não tenho um talento, ou um outro justificando que muitos admiram o da escrita? As palavras distanciam-me do que pretendo porque não as consigo simplificar. Não consigo...
E assim passam os meus dias.
Ainda ontem te disse "olá" e hoje quero dizer-te "adeus".

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Quero ser poeta de uma prosa peculiar*